Novos mistérios… {pt}

novos mistérios dolorosos

notturno & fuga op. 7
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>>> Primeiro eBook… em português! Kindle-Edition

novos-mistérios-dolorososUm torturador da ditadura, roceiro, vaqueiro, tropeiro do Interior de Minas, que por indicação de um amigo da PM é recrutado como membro das forças de repressão policial-militar contra supostos inimigos do regime, fala abertamente e com profusão de detalhes sobre o “ofício” e os colegas de serviço, relatando peripécias existenciais decorrentes da vida no sertão e na Capital, do misterioso sumiço do pai e do procedimento negativo da mãe que tanta mágoa lhe causou.
Repassa de forma peculiar, e com duvidosa gramática, inúmeras aventuras amorosas, casos, rixas, encontros e desencontros em suas muitas andanças por aí.
E vai entremeando o relato com reflexões típicas de sua origem agreste.
Um dia, esgotado e desiludido, visivelmente desmoralizado e envilecido, sem ânimo para seguir enfrentando a brutalidade e os dissabores da tarefa policial, provavelmente delatado por um companheiro, e já então caçado pelo Esquadrão como desertor, acaba amoitando-se numa brenha de sertão com a mulher que se diz sua meia-irmã.
A mistura explosiva de suas vivências, os efeitos das violentas práticas, por ele sofridas e cometidas, mormente no decorrer dos últimos anos, os constantes desvarios, medos e ciúmes da companheira, precipitam um final trágico para ambos.
O relato de um intelectual brasileiro, procedente da Alemanha com a missão de investigar atos e fatos da ditadura, inclui experiências pessoais, no Brasil e no Exterior, indagações e conjeturas, comos e porquês.
Após uma turbulenta série de contatos com o “agente” e seus capangas, cai ele mesmo nas malhas da repressão, desaparecendo por fim misteriosamente.
Essa trama constitui o manuscrito que anos mais tarde vai parar em mãos de um artista (também ele brasileiro), residente em Frankfurt, o qual através de seus contatos o resgata para publicação.

Não fosse o diabo… {pt}

Não fosse o diabo (da velhinha)

pode me chamar de sem-vergonho
mas não deu outra, saí da loja e levei
teu corpo na retina, sou muito meta-
físico, fiz abstração imediata aguda
prismática do vestido lilá aberto de lado
mostrando a melhor parte da tua coxa
esquerda e da blusa (quase) transparente
com florinhas também lilases faltando
um botão e mostrando ali (sem querer?)
entre um suspiro e um olhar duas flores
redondas lisinhas dum adivinhado
perfume de rosas e tenras folhas silvestres
que se eu pudesse, vou caminhando
pairando vou sonhando tropeço na sombra
de um querubim e quase caio nos braços
de vetusta dama de bengala e óculos
escuros, perdão, minha senhora, mea
culpa, todo compungido e pudoroso
(apesar dos pensamentos streap-tísicos
teu corpo já quase nu para o festim)
dizendo-me a vovozinha num muxoxo
fosse menina-moça, meu lindo, ó,
te convidava agora mesmo pr’aquele
fuzuê, e um risinho seco diabólico,
a ousadia confesso me tirou do sério,
que diabo de velhinha mais afoita
lá se foi a abstração o sonho a hora
morna do sátiro – relambendo-se
de uma safadeza imaginada

(de “Esse mundo é meu”, 2010)

Aretê {pt}

O homem armado
que em clandestinos porões
semi-escuros blindados duros
submete avilta tortura e mata
a um homem atado seminu
sem armas —

identifica-se: bastardo
do ventre mais desgraçado
de mulher nascida!

O homem dotado
de poderes e instrumentos de morte
contra um homem culpado
de nada a não ser de [ameaçado]
resistir à opressão —

revela-se: bastardo
do ventre mais aviltado
de mulher parida!

Entre bastardos
dessa natureza e as vítimas
da opressão mais aviltante
[que um dia entre nós se atreveu]
identifique-se revele-se [que é
verdade e dou fé] a diferença
entre valor e covardia!

{de “Nem ostras nem ostracismo”, Hirschberg 2008}