Ausência sempre (Dia dos Pais, no Brasil)

Qué triste se ha vuelto el mundo!
Rosalía de Castro

{a palavra é a lâmina a escopeta a mina
e cada verso um gesto de autodefesa
frente aos golpes baixos da vida}

PAI, que será de mim
neste mundo sem o doce
peso dessa mão suada
sulcada de rugas e veredas
em que tudo se perdeu
ou por fim se há de perder

PAI, onde estás, onde foste
ocultar-te dos meus olhos

Olhar assim da janela fere de morte a frágil pupila
de qualquer criança, sei que é de manhã aí está o sol
o céu e todo esse falso clarão, sei que assim é
e é natural, mas o que vejo e sonho
é sombra e cerração —

PAI, diz que é mentira ilusão de óptica miragem
viagem de volta ao encontro de duas vidas desencontradas…
diz que não, diz que sim, vem, quero tua mão antiga, firme
e não essa ausência sempre…

Ah, eternidade… presença sempre do que foi e sempre será:
princípio e fim, luz e força, suor e sangue, risos e lágrimas, amor e obras,
coração na mão feito presença mesmo quando ausente no tempo…

e muitas vezes, muitas, dias, meses, anos (já são tantos!)
nas aleatórias e peculiares circunstâncias de nossas vidas,
no pouco espaço de tempo em que nos foi dado viver.

Copyright © J. R. Bustamante, 2019

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