In memoriam
Carlinho Bustamante
¡Qué tierno como el rocío!
Pero ya duerme sin fin.
No te conoce tu recuerdo mudo
porque te has muerto para siempre
como todos los muertos de la Tierra.
Federico García Lorca
Llanto por Ignacio Sánchez Mejíasi
…so leben wir und nehmen immer Abschied.
Und das Totsein ist mühsam und voller Nachholn,
dass man allmählich ein wenig Ewigkeit spürt.
Rainer Maria Rilke
Duineser Elegienii
♦ ♥ ♦
Carlinho, irmão do coração e de toda a vida
infância condividida mocidade compartida
e tantos anos de incerto vaivém pelo mundo
por que essa pressa em livrar-se do tempo
para enfrentar-se aos obscuros caminhos
da eternidade?
Não me venham dizer que já não podemos
nunca mais levar aquela prosa de mineiro
se rindo das coisas que só nós entendíamos.
Setenta e cinco não é idade pra dizer adeus
a ninguém, o mesmo teria dito ao nosso pai,
estivesse a seu lado quando se foi.
Que coisa tão estranha não estar mais
entre os vivos, justo quem tanto apego
tinha à vida com seus risos e mágoas.
Na lista de nossos mortos mais queridos
tocou-lhe o número dez e o que mais dói
é essa verdade pura e dura…
prematura como a de nosso pai
que até hoje parece impossível
vida e morte “a canto aiêio”.
Na estela de antigos passos pelos morros
e veredas do nosso velho caxambu fica
a lembrança eterna de um garoto
da pá virada do riso fácil e da infinita
bondade de um coração que nunca
soube dizer não.
Foi isso que te cansou e apressou
a tua última viagem? Ou foi antes
um imprevisto desvio no caminho
que te levou a ser pai em vez de ser
o padre que nunca fui para tornar-me
o andarilho sem destino permanente
a não ser o de (entre outras inutilidades)
ser poeta com que também cantar teu nome?
Ser padre. Por que eu e não você que tanto
se dedicava ultimamente aos evangelhos
epístolas e martirológios?
A morte é surda, sei que não me escutas,
coração cansado, corpo consumido, agora
encerrado e só numa dura casa de pedra
dorme em paz, irmãozinho, dorme
teu eterno sossego das labutas diárias
e das mágoas e dores de toda a vida.
Agora mesmo me sinto rodeado
de tua presença silenciosa e inerte
para um último abraço que ficamos
devendo um ao outro… até outro dia…
Inconsútil porém é aquele rosto,
humanado cilindro silencioso
frente ao tempo, e em poesia recomposto.
Jorge de Lima: último soneto
i…Que terno como o orvalho!
Mas já dorme para sempre.
Não te conhece tua lembrança muda
porque para sempre estás morto
como todos os mortos da Terra.
F. García Lorca: Lamento por Ignacio Sánchez Mejías
ii…assim vivemos e sempre nos despedimos.
E estar morto é penoso e quanta ânsia de recuperar
lentamente a sensação de um pouco de eternidade.
R. Maria Rilke: Primeira elegia de Duino
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de “Fragmentos do horizonte” (Esse mundo é meu)