Ausência sempre
’eli ’eli lama sabachtani?
In memoriam
Geraldo Ribeiro Bustamante {08.09.1916 – 09.12.1991}
Ausência sempre… a eternidade… presença sempre
do que foi e que sempre será: princípio, luz e força,
suor e sangue, risos e lágrimas, amor e obras, coração
na mão feito presença mesmo quando ausente no tempo…
e muitas vezes, muitas, dias, meses, anos, tantos,
nas aleatórias e peculiares circunstâncias de nossas vidas,
também no espaço em que nos foi dado viver.
J. R. Bustamante – 8.9.2016
Cangas, Galicia, España
Azulão
Ai! Voa, azulão, vai contar, companheiro, vai!
Manuel Bandeira (1886-1968)
Azulão! Azulão!…
mínima mancha de azul
no pluriverde coração da mata.
Azulão! Azulão!…
ponteando as sombras do arvoredo
trespassa o verde seu trinado azul
(voa Azulão, vai ver minha ingrata…)
gorjeio gota de orvalho pingente
nas fibras do verde, um azul modula
tão límpido que de zelos cala-se
o verde (voa Azulão, vai contar…)
a penugem de teu peito
aninha tanta saudade, tanto riso
contrafeito, voa Azulão, vai cantar…
furtivo clarim das matas
azul-ferrete ou faiança e todo
o azul deste mundo céu azul
da minha infância
no gogozinho azulado
azulinho de esquivança
(azulou) meu Azulão
bateu asas e avuô…
ai irmão passarinho!
© by j.r.Bustamante / do livro «Nem ostras nem ostracismo», 2008, Hirschberg, Alemanha, BOD Edition (COLEÇÃO PESSOAL) All rights reserved