Sétimas… não dominantes!

Minha vida foi assim:

No princípio a natureza
seus mistérios seus milagres
nos altos da Mantiqueira
verde vale campos verdes
bambuzais e verdes matas
galinhas vacas cavalos
meu Rucinho em disparada
pai e mãe irmãos avós
vovô Derfo vovô Chico
a passarada dos campos
ricas frutas tropicais
infância de alumbramentos
lembranças vivas de um tempo
do tempo antigo passado
há tanto tempo já morto
do queijo fresco de Minas
que elaborava meu pai
de mui saudosa memória

Para contar nossa história
vou ter de escrever um livro
com base em fatos reais

Pai e mãe onde é que estais
como dói esta saudade
essa saudade de todos
que já se foram de casa
para nunca mais voltar

Do meu coração não sai
a vontade de rever-lhes
os olhos acostumados
que tanta falta me fazem

Vou parando por aquí
só de lembrar-me de vós
me dá um nó na garganta
não posso mais, digo adeus
até poder ver de novo
seus semblantes mais que vivos
ocultos naquela nuvem
ali detrás do horizonte
que vai dar no infinito

Ando aqui meio perdido
num mundo que não é meu
já nem sei qual a razão
que me trouxe a estas praias
viver desse jeito ao léu

deve ser destinação

adeus meu pai minha mãe
adeus todos os meus mortos
adeus… para sempre adeus

© Copyright text & music jrBustamante, 2025

No Dia Mundial da Poesia – Primavera no hemisfério norte

Quatro poetas, para mim são deuses!

Dois brasileiros, dois latinoamericanos: deuses da poesia!

Jorge de Lima (1893-1953): https://pt.wikipedia.org/wiki/Jorge_de_Lima

Tu és, ó Mira-Celi, a repercutida e o laitmotivo
que aparece ao longo de meu poema.
Nele estás construída à semelhança de um imenso órgão
movimentado pelo meu espírito.
Cresces nele paralelamente a teu desenvolvimento físico,
mas incognitamente, como uma órfã dentro da multidão.
Às vezes, quando dobras uma página, perguntas: – “Sou eu?”
Mas, olhando depois a paisagem mudar tanto, no espaço de um segundo, encontras os teus membros na nudez de uma frase.
Nunca te libertarás deste parque em que nos encerramos,
fingindo dois desaparecidos, e em que nos nutrimos um do outro contra as leis naturais.
Outras vezes te encolhes em mim, ó minha pequena maré;
e basta que eu abra as pálpebras e a minha memória te encontre,
para te recompores imediatamente
em minha maior dimensão.


Murilo Mendes (1901-1975): https://pt.wikipedia.org/wiki/Murilo_Mendes

Eu sou o olhar que penetra nas camadas do mundo,
ando debaixo da pele e sacudo os sonhos.
Não desprezo nada que tenha visto,
todas as coisas se gravam pra sempre na minha cachola.
Toco nas flores, nas almas, nos sons, nos movimentos,
destelho as casas penduradas na terra,
tiro os cheiros dos corpos das meninas sonhando.

É necessário conhecer seu próprio abismo.

E polir sempre o candelabro que o esclarece.


César Vallejo (1892-1938): https://es.wikipedia.org/wiki/Cesar_Vallejo

Hay golpes en la vida, tan fuertes… ¡Yo no sé!
Golpes como del odio de Dios; como si ante ellos,
la resaca de todo lo sufrido
se empozara en el alma. ¡Yo no sé!

Son pocos; pero son. Abren zanjas oscuras
en el rostro más fiero y en el lomo más fuerte.
Serán tal vez los potros de bárbaros atilas;
o los heraldos negros que nos manda la Muerte.

Son las caídas hondas de los Cristos del alma,
de alguna fe adorable que el Destino blasfema.
Estos golpes sangrientos son las crepitaciones
de algún pan que en la puerta del horno se nos quema.

Y el hombre. Pobre. ¡Pobre! Vuelve los ojos, como
cuando por sobre el hombro nos llama una palmada;
vuelve los ojos locos, y todo lo vivido
se empoza, como charco de culpa, en la mirada.
Hay golpes en la vida, tan fuertes. ¡Yo no sé!


Nicanor Parra (1914-2028): https://es.wikipedia.org/wiki/Nicanor_Parra

LA
POESÍA
MORIRÁ
SI NO
SE LA
OFENDE

hay
que poseerla
y humillarla en público

después se verá

lo que se hace

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PARABÉNS, maninha caçula!

Não tens fala, nem movimento nem corpo.
E eu te reconheço.

Não sofras, por não te poderes levantar
do abismo em que te reclinas.

E hoje era o teu dia de festa!

(Cecília Meireles, ELEGIA)

Faz exatamente três meses
que as malditas rodas do destino
ceifaram tua curta vida, minha
querida maninha caçula.

Como dar-te hoje meus parabéns
pelos anos vividos, sessenta e sete
exatos, não, exatos não porque
a misteriosa mão invisível que rege
nossas vidas quis encurtar a tua
levando-te antes do tempo…
três meses antes de completar esses
breves sessenta e sete pelos quais
queria dar-te meus mais sinceros e
carinhosos parabéns, isso, parabéns!

Mas como fazer se já não estás aí
para recebê-los e com tua inexorável
alegria responder com um simples
obrigado meu irmão!

Te guardarei na memória e no coração
por todo o tempo que me resta até
alcançar a dimensão eterna em que
agora te encontras.

Que vontade, Lurdinha,
vontade mais louca de te abraçar
como quando eras pequena, ansiosa
me esperando com o pacotinho de bolachas
de arroz (tá lembrada?) que trazia de São Paulo
cada quinze dias de volta a casa.

Era chegar e saltava a pergunta
que é isso Zzinh, e eu, sei lá, chinelo velho
sempre era chinelo velho o pacote duplo
de bolachas de arroz que com tanta gula
comias até acabar o pacote, então tinha
outro chinelo velho escondido e você
se alegrava e me abraçava…

Que saudade
querida maninha caçula de quando
eras pequenininha e me abraçavas
com tanto carinho e alegria e gula
de bolachinhas de arroz que não eram
senão ‘chinelo velho’

 

Copyright © by text & music jrBustamante, 2024

do livro inédito “Esse mundo é meu

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