Não fosse o diabo… {pt}

Não fosse o diabo (da velhinha)

pode me chamar de sem-vergonho
mas não deu outra, saí da loja e levei
teu corpo na retina, sou muito meta-
físico, fiz abstração imediata aguda
prismática do vestido lilá aberto de lado
mostrando a melhor parte da tua coxa
esquerda e da blusa (quase) transparente
com florinhas também lilases faltando
um botão e mostrando ali (sem querer?)
entre um suspiro e um olhar duas flores
redondas lisinhas dum adivinhado
perfume de rosas e tenras folhas silvestres
que se eu pudesse, vou caminhando
pairando vou sonhando tropeço na sombra
de um querubim e quase caio nos braços
de vetusta dama de bengala e óculos
escuros, perdão, minha senhora, mea
culpa, todo compungido e pudoroso
(apesar dos pensamentos streap-tísicos
teu corpo já quase nu para o festim)
dizendo-me a vovozinha num muxoxo
fosse menina-moça, meu lindo, ó,
te convidava agora mesmo pr’aquele
fuzuê, e um risinho seco diabólico,
a ousadia confesso me tirou do sério,
que diabo de velhinha mais afoita
lá se foi a abstração o sonho a hora
morna do sátiro – relambendo-se
de uma safadeza imaginada

(de “Esse mundo é meu”, 2010)

Aretê {pt}

O homem armado
que em clandestinos porões
semi-escuros blindados duros
submete avilta tortura e mata
a um homem atado seminu
sem armas —

identifica-se: bastardo
do ventre mais desgraçado
de mulher nascida!

O homem dotado
de poderes e instrumentos de morte
contra um homem culpado
de nada a não ser de [ameaçado]
resistir à opressão —

revela-se: bastardo
do ventre mais aviltado
de mulher parida!

Entre bastardos
dessa natureza e as vítimas
da opressão mais aviltante
[que um dia entre nós se atreveu]
identifique-se revele-se [que é
verdade e dou fé] a diferença
entre valor e covardia!

{de “Nem ostras nem ostracismo”, Hirschberg 2008}

Día de la madre {es}

que este domingo por la noche
—día de la madre— no te vayas
a dormir, ¿sabes por qué? para ver
mejor entre las 3 y 5 de la mañana
[la noticia recuerda: buscad un sitio
oscuro, lejos de las luces urbanas]
para ver y admirar la meteórica lluvia
de estrellas [o meteoros]…
la + importante de la primavera.
Acabo de leer y digo a la pantalla
NO… si quiero ver lluvia de estrellas
o meteoros busco la oscuridad de mis 4
paredes: aquí tengo a mi lado [derecho]
todas las noches de primavera y demás
estaciones del año más luz mucho más
que el resplandor lejano y fugaz de Eta
Acuáridas y Halley con su cola casi eterna
y todas las estrellas del oscuro universo
tengo aquí 2 ojos claros que iluminan
que alejan que prohíben noches sombras
y espantos de mis ojos y pasos vagamundos
es la estrella con nombre de p-o-e-m-a
como lo decía entre otros Ovidio
y también Catulo, mi preferido:
C A R M E N C A R M E N C A R M E N