Soneto… {pt}

…imperfeito

todo mundo está cansado de saber
que um soneto que se preze e como tal
queira ser reconhecido e recitado

além de ser rimado e bem medido
há de conter 4 versos e mais 4
pra não passar por imperfeito

inevitavelmente lhe faltariam 3
e 3 que apurando bem os cálculos
dariam catorze, cifra que detesto
sei lá por quê, não sei lidar com números

rompesse aqui esse malabarismo
por água abaixo iriam 2, verso e poeta!
ainda me falta o imprescindível fecho
de ouro, pobre de mim, morro imperfeito

(de “Esse mundo é meu”, © text@music, 2013)

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Novos mistérios… {pt}

novos mistérios dolorosos

notturno & fuga op. 7
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>>> Primeiro eBook… em português! Kindle-Edition

novos-mistérios-dolorososUm torturador da ditadura, roceiro, vaqueiro, tropeiro do Interior de Minas, que por indicação de um amigo da PM é recrutado como membro das forças de repressão policial-militar contra supostos inimigos do regime, fala abertamente e com profusão de detalhes sobre o “ofício” e os colegas de serviço, relatando peripécias existenciais decorrentes da vida no sertão e na Capital, do misterioso sumiço do pai e do procedimento negativo da mãe que tanta mágoa lhe causou.
Repassa de forma peculiar, e com duvidosa gramática, inúmeras aventuras amorosas, casos, rixas, encontros e desencontros em suas muitas andanças por aí.
E vai entremeando o relato com reflexões típicas de sua origem agreste.
Um dia, esgotado e desiludido, visivelmente desmoralizado e envilecido, sem ânimo para seguir enfrentando a brutalidade e os dissabores da tarefa policial, provavelmente delatado por um companheiro, e já então caçado pelo Esquadrão como desertor, acaba amoitando-se numa brenha de sertão com a mulher que se diz sua meia-irmã.
A mistura explosiva de suas vivências, os efeitos das violentas práticas, por ele sofridas e cometidas, mormente no decorrer dos últimos anos, os constantes desvarios, medos e ciúmes da companheira, precipitam um final trágico para ambos.
O relato de um intelectual brasileiro, procedente da Alemanha com a missão de investigar atos e fatos da ditadura, inclui experiências pessoais, no Brasil e no Exterior, indagações e conjeturas, comos e porquês.
Após uma turbulenta série de contatos com o “agente” e seus capangas, cai ele mesmo nas malhas da repressão, desaparecendo por fim misteriosamente.
Essa trama constitui o manuscrito que anos mais tarde vai parar em mãos de um artista (também ele brasileiro), residente em Frankfurt, o qual através de seus contatos o resgata para publicação.

Não fosse o diabo… {pt}

Não fosse o diabo (da velhinha)

pode me chamar de sem-vergonho
mas não deu outra, saí da loja e levei
teu corpo na retina, sou muito meta-
físico, fiz abstração imediata aguda
prismática do vestido lilá aberto de lado
mostrando a melhor parte da tua coxa
esquerda e da blusa (quase) transparente
com florinhas também lilases faltando
um botão e mostrando ali (sem querer?)
entre um suspiro e um olhar duas flores
redondas lisinhas dum adivinhado
perfume de rosas e tenras folhas silvestres
que se eu pudesse, vou caminhando
pairando vou sonhando tropeço na sombra
de um querubim e quase caio nos braços
de vetusta dama de bengala e óculos
escuros, perdão, minha senhora, mea
culpa, todo compungido e pudoroso
(apesar dos pensamentos streap-tísicos
teu corpo já quase nu para o festim)
dizendo-me a vovozinha num muxoxo
fosse menina-moça, meu lindo, ó,
te convidava agora mesmo pr’aquele
fuzuê, e um risinho seco diabólico,
a ousadia confesso me tirou do sério,
que diabo de velhinha mais afoita
lá se foi a abstração o sonho a hora
morna do sátiro – relambendo-se
de uma safadeza imaginada

(de “Esse mundo é meu”, 2010)