¿Imposible? {es}

CAMINOS DE LA TARDE

fin de tarde, casi, tranquilo caminaba
por aquella colina, perdona, de aquí
no se ve, despacio caminando ven (te dije)
tu mano… sí, así… cuando leve un golpe
de viento (no, el mínimo temblor de ligera
brisa, indiscreta mariposa plateada)
a mi izquierda me sopló ffffuuuyyy
la palabrita (aquí), palabra zumbido que
en un primer instante vagamente no me
parecía, estuviese asustado embriagado
entrado en delirios por un sorbo de aire
envenenado, hechizado, y solo al seguir,
decidido atento paso a paso contigo,
los contornos del paisaje, otro manso
ondular del aire la completó:
no es vida ni muerte el tono
ni mayor ni menor, no es, ni melodía
de origen desconocido, y dolor no es,
ni amor ni nada de color, es un nombre
un nombre que me huye me persigue
me conturba un nombre (¿qué diré?)
paulatino / aura / ala / imposible—

de la colina quedó grabado el perfil,
fino ondulado como la hermosa línea
de tu sonrisa iluminando el verde,
tu mano en la mía, el temblor, un soplo,
la breve palma incendiada de tu mano,
y en el manso lomo de la brisa (¿oyes?)
la palabrita adivinada : un (¡qué sonrisa!)
un nombre, ¡dime!, ¿cómo dices que
te llamas… que te llaman?

Tu nombre—
más que el nombre
un impronunciable
deseo, deseo que—

¿te asusta la garra del tiempo
la garra oculta que nos empuja
no para un abrazo (¿y si te cojo,
así de fuerte, y nunca más nunca
más te dejo?) un elo que lo anule,
cadena perpetua, nos empuja,
no para el anhelado beso
que lo eternizara, no, no,
la garra oculta, la garra
y la certeza, la sentencia
de un imposible—

Mulheres… {pt}

Mulheres da (minha) vida

mulheres das ruas e avenidas
lojas e mercados bancos lanchonetes
da paulicéia e de outras brenhas
mulheres da terrinha e da estranja

cabelinho curto longas melenas
formas polifônicas caprichos noturnos

mulheres da bretanha e das margens
do Reno do Neckar do Atlântico

mulheres da cantareira da mantiqueira
taunus palatinado floresta negra
umas da alsácia e da lorena

(meu vô dizia carece provar de tudo
nesta vida menino vai e come
o que não se pode é passar fome)

mulheres de flandres da galiza
mulheres do mundo e submundos
de um e de outro hemisfério

em cujo mistério desliza e cai
em profundo sopor de espanto
e alumbramento o olhar perdido
de um curioso andarilho

tanto que ver e admirar sonhar
querer provar gozar que a vida
não dá, nasce o enigma e cresce
em círculos de luz e chamas

sem lei aparente sem mitologia
vertigens dum ser franzino doente
mais teimoso que o vento e a pedra
(doença do coração tem cura?)

entre todas a pungência mais doída
uma alzira que depois de ser mãe
agora é anjo vivo, ri à-toa inocente
por entre a névoa dos sonhos
que há noventa anos a enchem
de graça e alimento e valentia

quando ri diz-que clareia o dia
a noite tropical, não sei, não vi
não tornei a ver por quê
por quê por quê?

dói demais essa luz no olhar
antigo, se rindo alto na memória
que dá nos olhos da gente

é aquele golpe de aço por saber
(quem olha assim), olhar não cura
o mal da solidão, cura nada

o jeito é transmudar a dor em gozo
passageiro um dia sim outro também
dois corpos que se juntam como ondas
violentas de mar atlântico insolente
batendo naquelas rochas negras
ali onde agora me deu por existir
(subsistindo)

dar passagem ao enigma : a junção
de dois corpos que podem até
juntarem-se apertando-se
entre beijos candentes
inocentes dois corpos,
duas almas, duvido e faço pouco!

já dizia o bandeira o aleixandre
e outros dizedores de coisas
do gênero poético igualzinho
às coisas singelas do dia-a-dia

que o melhor é não dizer
e sim deixar acontecer –

(de “Esse mundo é meu”, 2010)

Nem ostras… {pt}

Nem ostras nem ostracismo

não me atrai a ostra
seu jeito molusco
seu meio lúrido
seu estar encerrada
numa concha negra
existência côncava
à mercê das águas
do mar da maresia

nem o bicho nem o símbolo
não me perguntem por quê
coisas de montanhês

não me atrai o ostracismo
a má fama as circunstâncias
tão-só o que tem de liberdade
ou a ilusão de… melhor é
pôr-lhe outro rótulo: banido
por livre-arbítrio

o sonho do retorno vai
queimando, vela votiva
no altar das ilusões

amanhã tudo é possível

(de “Nem ostras nem ostracismo”, 2008)